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Educação superior de qualidade e ies rentáveis: é possível?
Ultimamente temos visto nos noticiários um grande debate sobre a educação no Brasil, em torno de erros e acertos, bem como diante de resultados que não deixam dúvidas: a qualidade da educação no Brasil, de uma forma geral, precisa melhorar bastante, apesar de ter evoluído nos últimos anos. Opiniões, idéias, ações e críticas surgem por tudo quanto é lado, mas efetivamente os resultados têm demonstrado que é preciso mais! Mas qual é a fórmula mágica para que se tenha uma educação de qualidade? Não existe fórmula mágica: é preciso mesmo trabalho sério e inovação.
Com base na minha experiência de onze anos atuando na educação superior, tanto na docência quanto na coordenação de cursos de graduação e pós-graduação, bem como na gestão administrativa e financeira de IES, apresento algumas propostas direcionadas ao ensino superior, que poderão contribuir para que tenhamos um ensino de qualidade neste seguimento.
Primeiramente, as IES devem adotar um processo seletivo rigoroso para ingresso dos alunos. A entrada de bons alunos na instituição já é um grande passo para a receita de sucesso. Sem bons estudantes do ensino médio, perde-se muito tempo para nivelar o conhecimento básico, o que nem sempre se consegue, fazendo com que alunos de graduação se formem com uma série deficiências.
Mas, se não for possível fazer um processo seletivo rigoroso em função da baixa demanda, a IES precisa mostrar o seu rigor no ensino, mostrar a sua “cara” já no primeiro período, na entrada. Vai haver evasão? Possivelmente sim, mas os que ficarem saberão que a IES preza por um ensino de qualidade, que proporcione uma boa formação, que é o que o mercado de trabalho está exigindo hoje. E durante todo o curso, as avaliações têm que ser aplicadas com o maior rigor possível, reprovando quem não sabe, não importando se o aluno vai ficar contente ou não com isso. Além disso, o plágio (cópia de trabalhos) precisa ser combatido veementemente, inclusive com reprovação e desligamento.
Uma outra prática interessante é estimular o desempenho dos alunos, por meio de premiações, concursos e olimpíadas. Mesmo que não se consiga a adesão de todos os alunos, os que participam acabam elevando o nível e a exigência na sala de aula.
Com relação aos professores, a instituição deve procurar pagar bons salários, para conseguir ter bons profissionais no quadro, que aliem titulação acadêmica e experiência fora da sala de aula. Além disso, cabe a IES estimular a produção acadêmica e científica do docente, adotando um programa de ajuda de custo para que os docentes participem de seminários, congressos e eventos científicos.
Também é necessário estimular a capacitação do professor, por meio de programa de ajuda de custo para cursos de mestrado e doutorado, caso a IES não possua tais programas. E, finalmente, apesar de causar certa polêmica no meio acadêmico, as IES devem adotar um programa de premiação docente, semestral ou anual, contemplando certa quantidade de professores com determinada quantia em dinheiro, premiação esta definida com base na produção acadêmica e científica (maior peso), na atuação do professor na instituição (pontualidade, participação nas reuniões, cumprimento de prazos, entre outros) e nas avaliações dos estudantes (menor peso).
Tenho a experiência de ter conduzido a implementação de um programa de premiação docente em uma IES onde atuei como Diretor Administrativo Financeiro. Apesar de algumas resistências iniciais, o programa foi adotado e observamos que os professores premiados semestralmente investiam seus prêmios na própria produção acadêmica e científica e na participação em eventos de caráter científico, realimentando a pontuação para obter o prêmio novamente. O professor, a instituição e, conseqüentemente, os alunos ganharam com isso.
Na parte acadêmica, a instituição deve investir em pesquisa científica e disponibilizar aos alunos uma série de atividades complementares (extra-classe), tais como grupos de estudos, cursos e atividades de extensão, aulas interdisciplinares, disciplinas eletivas, debates, seminários, orientação de produção artigos científicos, oficina de leitura e produção de texto, entre outros.
Bom, mas agora vocês podem me perguntar: para implementar todas estas práticas que foram sugeridas, a instituição necessita de recursos financeiros, mas como fazer isso num momento de escassez de recursos e alta competitividade? Sabemos que a principal fonte de recursos das IES particulares são as mensalidades provenientes dos alunos e não haverá outra saída a não ser repassar estes custos para as mensalidades, o que poderá fazer com que as mesmas fiquem acima da média do mercado. E como sobreviver com uma mensalidade mais alta, quando a concorrência acirrada e a grande ociosidade de vagas têm empurrado os preços para baixo? Se a instituição adotar pelo menos boa parte das práticas sugeridas acima, com certeza, no médio prazo, esta IES vai conseguir obter bons resultados acadêmicos, se posicionando bem nos “rankings”, que lhe dará visibilidade e credibilidade, fator essencial para aumentar a procura/concorrência no vestibular e diminuir a ociosidade, proporcionando a sua sustentabilidade financeira e, consequentemente, a manutenção da qualidade e das políticas aqui relatadas.
A questão chave para os controladores e gestores das IES é entender que a implementação de tais práticas não se configurariam em “despesas”. Na verdade, se configurariam em “investimentos” que trariam bons resultados lá na frente.
E não tem jeito: por mais que a instituição diga que possua “boa estrutura física” e “cursos de qualidade”, é justamente com uma formação séria, exigente e de qualidade que surgem os bons alunos que, por sua vez, possibilitarão que os bons resultados apareçam, tanto acadêmicos, como financeiros.
As experiências das IES que adotaram tais práticas têm sido excelente. São instituições bem posicionadas nos rankings e no mercado, geralmente atuando em nicho específico e que se mantém como referencia no meio acadêmico e na mente dos consumidores.
Wellinton Tesch Sabaini. Mestre em Gestão Empresarial pela EBAPE/FGV-RJ, Doutorando em Administração pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Diretor do Instituto Brasileiro de Estudos em Finanças e Negócios – IBEFIN.
Artigo Publicado originalmente no Informativo Humus News, nº 72, de novembro de 2011.
20/06/2012