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A importância de conhecer e gerenciar riscos

O gerenciamento dos riscos que envolvem uma organização, seja ela de qual tipo for, ganhou notoriedade e importância a partir do início dos anos 2.000, quando houve uma “quebradeira” de grandes empresas, principalmente nos EUA. Quem não ouviu falar da Enron, WorldCom, Arthur Andersen, entre outras, grandes empresas que sucumbiram, mas que cuja falência vieram acompanhadas de escândalos, envolvendo fraudes, roubos, desvio de conduta e todo tipo de situação ilegal.

A partir disso, regras mais duras e rígidas foram implementadas no mundo todo, principalmente nos EUA, para evitar que tal situação ocorresse novamente. O público alvo inicial foram as empresas que possuem ações negociadas nas Bolsas de Valores, bem como todas as organizações envolvidas com negociação de títulos e valores mobiliários (Instituições Financeiras, Corretoras, Empresas de Auditoria Externa, Empresas Classificadores de Risco, etc). No entanto, as exigências que envolvem o gerenciamento de risco têm se expandindo a todo tipo de empresa e negócios.

Termos como “governança corporativa”, “compliance”, “controles internos”, “políticas de disclosure” passaram a fazer parte do dia-a-dia das empresas, no sentido de evitar ou reduzir ao máximo todos os riscos que envolvem uma organização. E quais seriam estes riscos? Resumidamente seriam os seguintes:

- Risco de mercado: decorrente das oscilações de mercado, como mudança na taxa de juros, taxa de câmbio, inflação, etc.
- Risco operacional: resultante da atividade da empresa, como processos produção e fabricação, processos internos, prejuízos decorrentes de roubos ou furtos, falta de mão de obra especializada, etc.
- Risco de crédito e liquidez: decorrentes do não recebimento das vendas a prazo ou empréstimo/financiamento (no caso instituições financeiras), bem como da falta de recursos financeiros para operar (falta de liquidez).
- Risco legal/jurídico: decorrente da aplicação de novas leis, normas governamentais e decisões do Poder Judiciário.
- Risco de imagem: decorrente de uma situação que impacte o nome ou a marca da empresa, prejudicando a sua reputação junto aos clientes e à comunidade.
- Risco de gestão: resultante de informações distorcidas ou da falta de informações sobre o negócio, sobre os dados da empresa, fazendo com que decisões sejam tomadas equivocadamente e não seja possível uma boa gestão.   

Esclarecemos que podem existir outros tipos de riscos ou outras metodologias para classificar os riscos inerentes as organizações, não necessariamente como exposto acima. Geralmente as classificações são feitas para facilitar o entendimento, mas nem sempre conseguem abarcar todas as situações.

Mas quais seriam os riscos inerentes às instituições de ensino? Praticamente todos os tipos de riscos listados acima podem existir nas instituições de ensino, mas eu gostaria de destacar dois tipos de riscos: o risco de imagem e o risco de gestão.

O risco de imagem tem se tornado nos dias atuais um dos principais riscos, principalmente em virtude da facilidade de se gravar, filmar e divulgar as informações e situações do dia-a-dia de um negócio. Aconteceu um fato e em poucos minutos já está disponível na Internet.  Muitas vezes a situação é até corriqueira ou normal, mas se for divulgada de uma forma distorcida, o estrago na imagem pode ser grande.

As principais situações que envolvem risco de imagem são:

- Relações de consumo: órgãos de defesa do consumidor, delegacia do consumidor e a indústria do dano moral, por meio das varas especializadas de defesa do consumidor. Por mais que a instituição atue em conformidade com a lei, seguindo todos os procedimentos, sempre há a possibilidade de surgir algum tipo de situação que pode prejudicar a instituição, tanto a reputação (imagem), como financeiramente.

- Atuação do professor ou funcionário: por exemplo, se um aluno gravar ou filmar uma fala “equivocada” de um determinado professor, rapidamente pode parar na Internet e, conseqüentemente, na mídia.

- Atuar a margem da lei, mesmo nos casos onde as situações parecem “normais” ou já “institucionalizadas”: por exemplo, utilização de softwares “piratas”, cópias ilegais, pagamento “por fora” e o “caixa dois” (sonegação). Não ficaria bem, uma instituição de ensino, cujo objetivo principal é a formação do estudante, ter o seu nome na mídia envolvida com o software pirata.

- Autorizações para funcionamento da instituição: funcionar sem o “habite-se”, a certidão de corpo de bombeiros, alvará de localização e funcionamento, alvará ambiental, entre outros. Se acontecer qualquer problema na instituição, além do risco de imagem, a instituição pode ser processada pelo ministério público e outros órgãos.

O risco de gestão, que também pode ser considerado um risco operacional, diz respeito as decisões incertas ou equivocadas que podem ser tomadas pela gestão da instituição, devido à falta de informações ou informações distorcidas.

As principais situações que envolvem o risco de gestão são:

- Ausência ou ineficiência de sistemas ou softwares de gestão: muitas instituições possuem software de gestão, tanto acadêmico, quanto contábil e financeiro, mas que não são integrados, possibilitando dupla informação ou informações incompletas. Parte dos  proprietários não conhecem a realidade financeira das suas instituições.

- Departamentalização e centralização excessiva (burocracia): muitas instituição possuem regras rígidas no que diz respeito a relação mantida x mantenedora (a eterna “briga” entre o acadêmico e o administrativo/financeiro). Decisões acadêmicas são tomadas sem a participação do administrativo financeiro e muitas decisões administrativas são tomadas sem ouvir o acadêmico. 

Em meio às diversas atividades acadêmicas e operacionais, os gestores das instituições de ensino devem ficar atentos aos riscos que permeiam tais instituições. Devem mapear todos os riscos e trabalhar para que os mesmos sejam eliminados ou reduzidos ao máximo.  

Wellinton Tesch Sabaini
Diretor do Instituto Brasileiro de Estudos em Finanças e Negócios – IBEFIN
Artigo publicado originalmente no Informativo Humus News, nº 66, de maio de 2011.

20/06/2012